Cancro da próstata: «Os diagnósticos oportunos salvam vidas»

Os casos de cancro da próstata têm aumentado nas últimas décadas em todo o mundo e Portugal não foge à regra. Mas, para Estevão Lima, médico urologista, essa tendência pode ser combatida e invertida através de uma maior frequência de idas ao médico e de uma clara aposta na prevenção.

CARLOS EUGÉNIO AUGUSTO

ENTREVISTA

A PROF. DR. ESTEVÃO LIMA

Médico urologista, coordenador da área de Urologia do grupo CUF e professor na Escola de Medicina da Universidade do Minho

De acordo com um estudo recente, apenas 50 por cento dos homens vai ao médico com regularidade. As causas divergem entre falta de tempo, medo de um possível diagnóstico e assumir o ato como uma fraqueza. Para lutar contra essa filosofia têm surgido várias iniciativas que pretendem consciencializar a população masculina para a importância da prevenção, como é o caso do movimento Movember, nomeadamente através da realização de rastreios, em especial do cancro da próstata, doença que, de acordo com Estevão Lima, médico urologista, «já é a segunda causa de morte por cancro no homem acima dos 50 anos, apenas superada pelo cancro do pulmão». Ainda assim, apesar da elevada incidência, «trata-se de um cancro que, se diagnosticado em fase precoce, pode ser facilmente tratável, pois hoje existem terapêuticas altamente eficazes, estando, por isso, nas nossas mãos inverter essa tendência, caso os homens sigam comportamentos mais responsáveis face à sua saúde», defende o especialista.

Qual a razão que leva os homens a procurar pouco o médico?

Ainda que se deva refletir sobre isso, essa questão tem, felizmente, vindo a ser alterada, pois o estigma de o homem ir ao médico está a diminuir significativamente. Há mesmo uma enorme diferença entre as gerações que não tinham uma educação para a saúde e apenas iam ao médico na presença de sintomas, queixas ou dores, principalmente se isso afetava a atividade diária, e os homens que têm hoje 30 ou 40 anos e uma atitude diferente, mais proativa, adotando como normal as idas ao médico de família ou especialistas. É mesmo uma tendência crescente ver homens a fazer rastreios em idades inferiores ao recomendado. Isso reflete uma maior aposta na literacia da saúde, encontrando eco num maior cuidado com a alimentação ou no hábito de fazer exercício físico regularmente. Ainda assim, devemos fazer mais para inverter a incidência de algumas doenças, sobretudo na área da urologia, insistindo no alerta de que quanto mais precoce for identificado o problema, mais fácil será o tratamento e maior a probabilidade de cura.

17 DE NOVEMBRO DIA MUNDIAL DO COMBATE AO CANCRO DA PRÓSTATA

A data assinala a luta contra aquele que é o cancro mais frequente nos homens com mais de 50 anos. Em Portugal, existem 82 casos por cada 100 mil habitantes «... a grande mensagem a passar, e refletir, é que estamos perante uma doença com uma elevadíssima taxa de cura, principalmente nos cancros localizados e detetados precocemente»

MOVEMBER „Também conhecido por Novembro Azul, é um movimento que nasceu na Austrália, em 2003, e que incentiva à consciencialização da saúde masculina, sublinhando a importância da prevenção e diagnóstico precoce de doenças como o cancro da próstata, ainda que a sua intervenção se estenda à saúde mental, prevenção do suicídio e cancro dos testículos. Saiba mais em ex.movember.com/pt

Quais os cancros mais prevalentes na área da urologia?

Falamos de uma especialidade rainha em cancros, nomeadamente o da bexiga, o quarto com maior incidência em Portugal, pela ligação estreita aos hábitos tabágicos, como também do rim ou do testículo, este último como o mais frequente do tumores sólidos entre os 25 e os 35 anos. Mas, a maior ameaça é a elevadíssima prevalência do cancro da próstata.

Como se explica essa prevalência?