«Aminha mãe é a maior das minhas heroínas e inspirações, pois só alguém extremamente corajoso é que, aos 16 anos, olha para um filho recém-nascido, sem mãos e pernas, e diz: “Podia ser pior”. Ninguém está preparado para um choque como esse, que põe em causa sonhos e expectativas, mas, gradualmente ela e toda a família acreditaram que iam superar esse desafio. E é a esse crer que devo tudo na minha vida.»
PROBLEMA CONGÉNITO
«Viríamos a saber, anos mais tarde, na sequência de vários estudos médicos, que o meu problema se deveu a uma deficiência congénita, uma malformação das chamadas “teias” do líquido amniótico e que impediu o crescimento dos membros. Independentemente das causas, assim que saí da maternidade, fui internado em Alcoitão, uma instituição onde a minha família ganhou ferramentas para enfrentar a minha condição e soube o que iria ser feito para me ajudar a, um dia, colocar próteses nas pernas.»
LIVRE E INDEPENDENTE
«Tão ou mais importante do que essa aprendizagem foi o carinho que recebi e o facto de a minha família nunca ter escondido as minhas diferenças. Fui aprendendo que poderia ter uma vida normal, com muito sacrifício. Em Alcoitão, por exemplo, até aos 4 anos, passava os dias a ser preparado para receber as próteses. E, quando dei os primeiros passos, foi espetacular, mas difícil, pois as próteses eram duras e pesadas, e ainda hoje tenho as virilhas negras por causa da fricção. Gradualmente, fui-me habituando e, aos 9 anos, já andava por mim. Nunca me senti tão livre e independente.»
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